CORRUPÇÃO DEMAIS

14 \14\-03:00 novembro \14\-03:00 2015 at 10:38 Deixe um comentário

O Brasil está estressado, afogado por lama fétida e tóxica, capaz de levar o paciente a óbito. Não falo da lama que sai aos borbotões do rompimento das barragens em Mariana/MG, destrói casas, mata pessoas e peixes e polui o rio Doce. Nós já vimos esse filme noir anos atrás, quando uma empresa de produção de celulose, também de Minas, deixou vazar lama tóxica de seu reservatório de rejeitos, poluiu o rio Muriaé, acabou com flora e fauna do seu percurso e cobriu de lama negra o rio Paraíba do Sul. Até hoje o rio não se recuperou totalmente. Desapareceram os pitus e os peixes.
Alguém foi punido? Alguém foi indenizado? Medidas mais eficientes de proteção ambiental foram tomadas? Vai acontecer a mesma coisa no caso das barragens que guardam os resíduos da produção das usinas da Vale do Rio Doce. Podia ter acontecido antes, quando Eike Batista decidiu criar um mineroduto de Alvorada de Minas ao Açu para transportar minério de ferro e foi impedido pelos protestos dos ambientalistas daquela região. Mas o rio Doce continua a servir de caminho para outros minérios.
O Brasil seria muito maior, ofereceria melhor qualidade de vida e melhores oportunidades de emprego e renda a seus habitantes não fosse tamanha e tão frequente a corrupção em todos os níveis. A corrupção afeta fundamente a Saúde, a Educação, inclusive a Merenda escolar, as indispensáveis obras públicas, o transporte público, a moralidade e a confiança nas instituições e tudo o que se refere à infraestrutura do país. É uma paulada na economia. Estresse geral.
Quando a equipe que preparou a primeira viagem do ex-presidente Clinton a nosso país comentou em seu relatório que a corrupção aqui era endêmica, muita gente se abespinhou, a grande imprensa se revoltou, mas a verdade é que desde que Portugal, depois de deixar abandonado por quase meio século resolveu colonizar o país, mandando pra cá seus degredados, a fraude, a sonegação, o mau uso do erário imperam. Assim continuou durante o período da regência, do império e da república.
O escritor manauara Milton Hatoun, em matéria de O Globo, de 12 de outubro, diz: ”A República nasceu corrupta e violenta. Estamos vendo uma coisa nova que é punição de alguns empresários. Mas e os políticos? Tem um presidente no Congresso (Eduardo Cunha) que é sabidamente corrupto, mas segue no poder.” E todos sabemos que a propalada reforma política é pura ficção. Como os políticos vão limitar a ação nefasta de grande número de políticos? Quem acredita que criarão formas de controle e punição severa dos maus homens públicos? Lobo não come lobo, diz o ditado.
A procissão da corrupção começa com o decantado “jeitinho brasileiro” de resolver os problemas pessoais e do governo. Ninguém se importa com o cara ou a velhota cara de pau que furam a fila de banco, de supermercado, do posto de saúde e outras, como a do check-in nos aeroportos e da compra de ingresso em estádios e teatros. Aí, geralmente, vale a carteirada de autoridades e seus apaniguados; às vezes alguém reclama e é tachado de chato, ranzinza e outros mimos verbais.
O apadrinhamento floresceu no Brasil na época do padroado com a distribuição de benesses a alguns. E hoje temos os cargos comissionados, os contratados, os afilhados, tudo que foge dos concursos públicos para preenchimento de vagas no serviço público municipal, estadual, federal e estatais. A improbidade administrativa vigora como lei. Temos as concorrências fraudulentas e os famigerados aditivos contratuais. Isso estimula a indiferença, o descaso, a incompetência, a falta de compromisso com o trabalho e cria uma aura de cinismo que só serve para aumentar a corrupção. Todos acham que a safadeza é normal, aceitável. Não é. Temos que lutar contra isso, não só aqui, mas em todo o mundo.
Cansa e dá vergonha ler nos jornais impressos ou televisados as prisões de homens e mulheres por atos que podem ser comparados a furtos e assaltos. Todos os dias. Os cidadãos, culpados ou não, estão tão acostumados com a roubalheira, que não se escandalizam nem quando se furta donativos para vítimas de enchentes ou outros desastres naturais, o que pode acontecer com as vítimas da enxurrada de lama.
A corrupção, como a superbactéria que invade nossos hospitais e que prolifera, provavelmente por falta de controle e de fiscalização, pois a propina impede e atrapalha a varredura. O que deve ter acontecido com a fiscalização das condições dos reservatórios de rejeitos que se romperam. Tão bem fiscalizadas que pegaram todos de surpresa.
Assim também é o combate aos coiotes, que se aproveitam do desespero das populações atingidas pelas guerras e pelos atos terroristas para vender viagens inseguras, muitas vezes fatais aos fugitivos. Os imigrantes sofrem ainda pelo cinismo, ganância e impunidade dos coiotes, pela indiferença das populações e pela desumanidade de governantes que lhes impedem de entrar no país em busca de um fim para seus sofrimentos. É doloroso ver frágeis barcos cheios de gente vagar à deriva por mares perigosos, infestados de tubarões e criminosos. Milhares têm morrido.
A vergonhosa e desumana fila infinda de famílias famintas sedentas e cansadas caminhando sem rumo pelas estradas europeias abala a alma da gente. Crianças morrem afogadas e de fome, mas não se organizam protestos, passeatas, atos públicos em favor dos explorados. Banal.
A corrupção, como parasita mortal, se infiltra em todo o tecido social. O esporte, atividade símbolo da inteireza moral e física, se deixou contaminar e vemos indignados e entristecidos a Fifa e a CBF se debatendo num mar de lama que acaba de vez com a esperança do povo. O que já havia ficado claro quando foram flagrados seus dirigentes vendendo ingressos gratuitos durante a Copa do Mundo aqui no Brasil. E atualmente, quando se constata que muitos dos resultados de premiados em diversas modalidades de competição estavam dopados. É de doer o coração.

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